sábado, 21 de abril de 2012

Publicado em: Observatório do Direito à Comunicação

Comunidade indígena reclama protagonismo midiático


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Comunidade indígena reclama protagonismo midiático





Por Tatiane Klein, especial para a Repórter Brasil*
16.07.2007




Na Aldeia Krucutu(SP), Quando estivemos com os Parentes e  do Lançamento Livro de  Luiz Karaí




Internet, rádio, papel e poder
Outro aspecto que atrai o interesse de jornalistas é a presença da internet, dos celulares e dos videogames na vida dos índios, normalmente colocada como contraponto às tradições indígenas. Luiz Carlos Karaí defende o uso da internet no processo de difusão de sua cultura e de contato com outras comunidades indígenas, não apenas pelo website mantido pela Associação Guarani Nhê'Porã, mas também por mecanismos de comunicação instantânea como o MSN Messenger e o site de relacionamentos como o Orkut.

Moradores da aldeia Krukutu exibem perfis no Orkut reafirmando códigos étnico-culturais e participam de comunidades como "Educação Escolar Indígena" e "Problemas Indígenas", espaços virtuais para a ampliação da comunicação interna entre integrantes, apoiadores do movimento indígena. "Estamos no século XXI", diz Luiz Carlos, lembrando que a cultura de seu povo, assim como as outras, não está parada no tempo. Além de ensinar informática às crianças e aos jovens nas 13 estações disponíveis no Ceci, o professor pretende compartilhar as habilidades que adquiriu no curso específico sobre a manutenção de computadores.

Se a internet já faz parte da vida Guarani, outros meios de comunicação mais próximos da cultura oral indígena - e que podem favorecer o protagonismo dos povos - ainda não são muito utilizados. Apenas mais recentemente, iniciativas como o projeto Educom.rádio, desenvolvido junto ao povo Guarani-Kaiowá de Amambaí, no Mato Grosso do Sul, passaram a efetivar a capacitação técnica para a implantação de rádios comunitárias. A experiência resultou, inclusive, na produção de um programa em yopará (mistura dos idiomas Português e Guarani). Na Região Nordeste, alguns povos - como os Xukuru do Ororubá, em Pernambuco, e os Pataxó Hã-Hã-Hãe, no sul da Bahia - já contam com equipamentos próprios para a produção de material radiofônico.

As insatisfações do movimento indígena quanto à regulação da radiodifusão comunitária pela Lei 9612/98 estão condensadas no Relatório da Oficina de Áudio para os Povos Indígenas, que aconteceu de 03 a 06 de junho de 2007 na aldeia Caramuru dos Pataxó Hã-Hã-Hãe. O documento aponta a necessidade de uma legislação específica para os povos indígenas que garanta especial respeito à diversidade de suas culturas e suas estruturas internas de organização social. No tocante às críticas a limitações físicas como o raio de abrangência de apenas 1 km, por sua vez, os povos se colocam ao lado de diversos setores dos movimentos sociais na luta conjunta pelo fortalecimento das rádios comunitárias.

O meio impresso também pode dar espaço para que as comunidades indígenas atuem como sujeitos em processos de comunicação. Na própria aldeia Krukutu, livros didáticos para educação infantil em guarani que reproduzem fotografias das crianças e textos de professores do Ceci, editados em parceria com o Ministério da Educação (MEC), aguardam distribuição.

Sob orientação das lideranças comunitárias, a associação de José Pires elabora e imprime folhetos informativos que procuram valorizar o potencial turístico da região da Krukutu, a fim de dar fôlego ao tekoha (modo de vida) Guarani. O ecoturismo possibilita a aliança dos povos de outras aldeias - Tenondé Porã, Ytu e Pyau (as duas últimas, na região do Pico do Jaraguá) - desde 2001 e acaba atuando em frentes fundamentais: na luta pelas terras guaranis, dificultando a "ameaça" de posseiros que avançam na região de Parelheiros; e na garantia do sustento das famílias que, muitas vezes, dependem da venda do artesanato e da renda de programas assistenciais do governo. A atividade amplia ainda as políticas de preservação ambiental, principalmente contra a poluição da água, essencial para o tekoha Guarani. Há inclusive um programa de visitas monitoradas com palestras e apresentação do coral Kyringue Vy'Aa, Vozes das Crianças.

A chave da relação entre indígenas e mídia passa pelas próprias comunidades, na opinião de Priscila, do Cimi, organização ligada à Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que publica há décadas o jornal Porantim. O próprio Olívio Jekupé, da aldeia Krukutu, já escreveu textos para o periódico mensal, que destina 400 assinaturas a comunidades e escolas. Não faltam evidências de que os papeis de protagonistas nesse processo cabem aos próprios índios, superando a figuração na imprensa comercial e utilizando as ferramentas da comunicação conforme as suas próprias demandas. Afinal, como recorda Priscila: "Comunicação é poder, é disputa de poder".

*Estudante de Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Esta reportagem faz parte do Projeto Repórter do Futuro, da Oboré.

Vejam matéria na íntegra   no Observatório.

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