sexta-feira, 5 de maio de 2017

OPORTUNA MATÉRIA-ELIANE BRUM

http://brasil.elpais.com/brasil/2017/05/01/opinion/1493666728_748294.html(LEIA NA ÍNTEGRA)

As flechas empunhadas pelos indígenas que ocuparam Brasília na semana passada podem indicar. É contra os mais vulneráveis, os que ninguém liga, os grandes outros do Brasil que as mãos corrompidas avançam sem a necessidade de disfarçar sequer no discurso. É desta aldeia chamada Funai que vem se arrancando peça por peça e talvez em breve o dia amanheça e já não existam sequer cadeiras. É ali que o pior de ontem é melhor do que o pior de hoje. E no amanhã a frase “nenhum direito a menos” pode deixar de fazer qualquer sentido porque já se foram todos. É com os índios que acontece primeiro. Desde 1500, como se sabe. Mas, não custa lembrar: “Índio é nós”.
Na quinta-feira (27/4), o presidente da Fundação Nacional do Índio, Antônio Fernandes Toninho Costa, passou mal quando negociava com lideranças indígenas acampadas na Esplanada dos Ministérios. Uma queda de pressão, sua assessoria diria. Ele encarna por esses dias o drama tão bem expressado na frase antológica do escritor Luis Fernando Verissimo: “No Brasil, o fundo do poço é apenas uma etapa”. Antônio Costa é uma etapa, ele mesmo descobriu.
Antes dele, o governo-9%-de-aprovação-Temer tentou colocar um general para presidir a Funai. A informação vazou e houve reação. Afinal, a ditadura comandada pelos militares no Brasil, com o apoio de setores da sociedade civil, exterminou centenas de indígenas. O governo-9%-de-aprovação-Temer recuou do general, mas não recuou da decisão de entregar a Funai para o Partido Social Cristão (PSC). Assim, tipo um agrado para o partido da sua base aliada: “Pega aí a Funai pra vocês”.
O PSC notabiliza-se pela qualidade de seus expoentes: do pastor Marco Feliciano, aquele que diz que os “africanos descendem de ancestral amaldiçoado de Noé”, ao militar da reserva Jair Bolsonaro, que defende torturadores e se orgulha disso. Dono da Funai, o PSC, este partido que merece um estudo mais aprofundado, colocou Antônio Costa na presidência. Não mais um general, mas um pastor evangélico para cuidar das questões indígenas.
Antônio Costa, dentista e pastor da Primeira Igreja Batista do Guará, costuma ser um homem educado. Quando se despede dos indígenas, ele diz “fiquem com Deus”. Alguns povos indígenas poderiam perguntar a qual deus ele se refere, mas há questões mais urgentes. Mas, se Antônio Costa é um homem educado, seu olhar sobre os povos indígenas parece não ter sido abalado pela Constituição de 1988. Ele expressou suas ideias com sincera devoção na entrevista que deu ao repórter João Fellet, da BBC Brasil, no início de abril. Para ele, os indígenas devem ser inseridos no “sistema produtivo” e a mineração em suas terras ancestrais regulamentada o mais rápido possível.
A Funai é desmontada 

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